Ah, como as nossas memórias afetivas são os ladrilhos que pavimentam o efêmero caminho da existência…um leve piscar de olhos na eternidade do tempo.
Nada mais somos que poeira da estrela… poeira dos deuses que definem o rumo de nossa existência.
Como o momento que vi uma guitarra azul claro (provavelmente uma Giannini Supersonic) pendurada numa loja de discos (um fóssil de uma era distante onde o sagrado da música não escorria livre. Cada disco era uma conquista… um portal para a magia da música), outra Giannini branca pendurada no pescoço de um aluno mais velho papeando com uma menina bonita.
Minha mãe me levou até lá e pediu para o cara deixar eu olhar a guitarra…
Primeiras aulas de piano na infância, com minha mãe, aulas de violão popular na escola… aulas de violão erudito com o professor do bairro (dica do Sérgio Dias, dos Mutantes, dada ao meu pai, médico, que na época cuidou do seu irmão Arnaldo), até ganhar a almejada Gianinni Les Paul, o cálice sagrado!
Como um garoto tímido, sem muita tendência a esportes coletivos, apaixonado por carros de corrida e aviões, detonado pela asma crônica, mudou toda a rota de sua vida atraído pela força deste instrumento.
Inspirado primeiramente pelos Monkees (com direito a gorro verde do Mike Nesmith e miniatura do monkemobile), pela invasão britânica…(Beatles, Who , Animals, Hollies), pelo Kiss (como todo mundo e a irmã) a paixão pela guitarra se plasmou.
O caldo entornou de vez ao ver o especial do Hendrix no Realce da Gazeta…primeira nota vermelha da minha vida no dia seguinte…estrago feito!