Breves toques sobre a Arte da Transcrição
Alguns anos atrás não havia tanto material transcrito para guitarra, fossem músicas, trechos de solo (licks) ou muita informação em geral registrada.Inspirado pelo fato de um de meus heróis, Steve Vai, ter iniciado sua carreira como transcritor e copista de Frank Zappa, passei a investir tempo e energia no aprendizado desta arte que é grafar os etéreos e abstratos sons (muito sabiamente, um aluno, Celso Wolf, citou que esta é uma arte à parte da própria arte de tocar guitarra).Durante o período que cursei o bacharelado em violão erudito, tive a bênção de ser orientado por um corpo docente fantástico que abriu uma série de novas possibilidades e horizontes para minha vida.
A cravista e pianista Mary Vasconcellos foi minha orientadora na área de treino auditivo, leitura e rítmica; uma pessoa fantásica que, acima de tudo, ensinou-me que para conduzir qualquer trabalho é necessário paciência e saber se colocar nos “sapatos” que calçam o outro. Grande parte do trabalho em classe era realizado via audição e transcrição de trechos de obras eruditas, principalmente as cantatas de Bach à quatro vozes (ótimas para compreensão de encadeamentos).
A partir de muita “lição de casa” e guerra de nervos, consegui assimilar os princípios básicos da notação musical e colocá-los em prática.Logo após o final da faculdade(em torno de 1994), por aquelas torções “warp” que o destino nos prega, acabei trabalhando numa das primeiras equipes de transcrição do país, na revista Cover Guitarra, junto com os também guitarristas Rogério Scarton e Walmyr Tavares.
A torção “warp” é justificada pelo fato inusitado de uma semana após ter comprado um micro e instalado os programas básicos de notação musical, recebi o convite de Regis Tadeu (editor da revista a quem devo muito de minhas oportunidades de carreira) para integrar a equipe. Atualmente temos um cenário muito forte nessa área, tanto pelo nível de ensino musical que foi elevado, como pelo aumento de tecnologia empregada na área (Santos Plug-ins!!!).Fica aqui apenas uma ressalva que se aplica nesta nossa era globalizada e “overdosada” de informação; Há alguns anos, o próprio Jesse Gress, editor de notação musical da GP Americana, citou que a garotada não investia muita energia no aprendizado das músicas; o próprio mencionou que se tivesse esse material à sua disposição o teria devorado em sua adolescência.É sempre interessante tomar a partitura como referência para interpretação, como os atores fazem com os textos escritos.
Algumas dicas de trasncrição
1) Isole trechos curtos para notação (um grupeto, se necessário).
2) Pense primeiro na rítmica (depois coloque os “pitchs” corretos das notas).
3) Mantenha uma disciplina de transcrição (pratique-a como se fosse o estudo de seu instrumento).
4) Tente, antes de mais nada, nunca abandonar um projeto (na música e na vida).
5) Ouça, ouça e ouça…
Livros e material para realização do “lavoro”
Livros de referência para afiar a leitura
Pozzolli
Bona
Dacci
Grammani
Real Book (Fake book )
Sonatas e Partitas para Violino (Bach)-Dica do Mike Stern!!!
P.S Os Play Along do Abersold, além de ótimos para treinar improvisação, repertório e dicção, também funcionam como exercícios de leitura.
Sugestão de títulos: Miles Davis, Wayne Shorter, Michael Brecker, Wes Montgomery e Charlie Parker.
Material fisíco
1) Computador
2) Programas de notação como Finale e Encore
3) Lápis, papel de escrita, borracha (é fundamenal saber escrever longe do micro e sua resposta “real time” forçando mais o ouvido e a imaginação)
4) Em relação ao lápis, fica o toque do Marcelo Munari: “música se aprende com lápis 3b afiado no estilete!!!”
5) Coleção de discos legais
6) Café
7) Refrigerante (sua marca favorita)
OBS: Necessário se torna também, um preparo psicológico muito forte, pois sem dúvida, é um trabalho bem desgastante, portanto prepare também a caixa de chá de erva cidreira, tempo livre para aula de ioga e tente, dentro do possível, ser uma pessoa normal (apesar de que guitarristas geralmente são um reino à parte na natureza).